SERMÃO: O Desafio da Fidelidade na Pós-Reforma: Mantendo a Chama Acesa
Texto Bíblico (ARA) Hebreus 10.23:
Guardemos firme a confissão da esperança, sem
vacilar, pois quem prometeu é fiel.
Exórdio:
Meus irmãos e minhas irmãs a Graça e Paz em Cristo Jesus, estejam convosco!
Neste domingo, 26 de outubro de 2025, ao olharmos para a história da Igreja, há um marco
indelével que ressoa até hoje: a Reforma Protestante, iniciada em 1517. Foi um
período de fervor, de redescoberta das verdades centrais do Evangelho – Sola
Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide. A Bíblia foi devolvida ao povo, e a
justificação pela fé foi proclamada novamente.
Mas, e o que veio depois?
O pós-Reforma, um período que se estende
aproximadamente do final do século XVI até o início do século XVIII (marcado
por eventos como a Paz de Vestfália em 1648, que encerrou as grandes guerras
religiosas), foi um tempo de grandes desafios. A Igreja, agora dividida e
estabelecida em novas denominações, precisava ir além da "tese" e da
"disputa" para viver a fé no cotidiano, em meio a perseguições,
conflitos doutrinários e a tentação da formalidade. O fogo da redescoberta
precisava se transformar em uma luz constante.
O texto de Hebreus 10:23 nos traz a essência
do desafio pós-reforma, que é também o nosso desafio hoje: "Guardemos
firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem prometeu é fiel."
A ênfase muda do ato inicial de confessar (o que a Reforma fez) para o ato
contínuo de "guardar firme" (o que o pós-Reforma precisava
fazer).
A mensagem para nós, hoje, ecoa a necessidade daquela
geração: É tempo de Fidelidade Perseverante. Três Pontos de Reflexão
I. Guardar a Confissão (A Pureza da Doutrina)
A Confissão, no contexto de Hebreus, e também no
contexto pós-Reforma, não é apenas um sentimento, mas a doutrina
publicamente professada.
Os reformadores estabeleceram as bases, mas a geração
seguinte teve a missão de sistematizar e proteger essa fé. Surgiram os grandes
credos e catecismos (como a Confissão de Fé de Westminster, o Catecismo de
Heidelberg), que eram tentativas de firmar a confissão bíblica contra os
desvios.
·
O Perigo da Formalidade: O zelo inicial da Reforma correu o
risco de se tornar uma ortodoxia fria e puramente intelectual. O povo sabia
"o que" crer, mas corria o risco de perder "o porquê" e
"o como" viver.
·
O Alerta do Texto: Precisamos guardar a confissão (a verdade bíblica)
não apenas na mente, mas no coração. A pureza da doutrina deve levar à pureza
da vida. A Bíblia, que foi libertada para ser lida, deve ser vivida.
II. Manter a Esperança (O Foco no Invisível)
O período pós-Reforma foi marcado por grande turbulência.
As guerras religiosas (como a Guerra dos Trinta Anos) devastaram a Europa, as
divisões internas (luteranos, calvinistas, anabatistas, anglicanos) geravam
conflito, e a perseguição não cessava.
Nessas circunstâncias, a esperança humana esmorece. O
autor de Hebreus lembra à sua comunidade que eles precisavam de "perseverança"
para receber a promessa (Hebreus 10:36).
·
A Esperança sem Vacilar: A palavra grega para "sem
vacilar" (ἀκλινῆ - aklinē) significa "sem
inclinar", "firme", "inabalável". É a âncora que não
se move, mesmo com o balanço do mar.
·
O Fundamento da Esperança: Nossa esperança não
está no sucesso de nossa denominação, no poder político dos nossos líderes, ou
na estabilidade do nosso tempo. Nossa esperança está na promessa de que "quem
prometeu é fiel". DEUS não mente. Ele não falha. Esta certeza
inabalável é o que sustentou os crentes em meio à instabilidade pós-reforma e
deve sustentar-nos hoje.
III. Confiar na Fidelidade de DEUS (O Motor da
Perseverança)
No final de Hebreus 10:23, encontramos o motor que
nos impulsiona: "pois quem prometeu é fiel."
Na verdade, nossa fidelidade ("Guardemos
firme...") é apenas uma resposta à fidelidade de DEUS. Ele é o DEUS que
permanece fiel mesmo quando somos infiéis (2 Timóteo 2:13).
A geração pós-Reforma, ao estabelecer as igrejas e
doutrinas, precisava confiar que Aquele que havia iniciado a obra (a
redescoberta da graça) era o mesmo que a levaria a termo.
·
A Fidelidade de DEUS como Garantia: Se DEUS é fiel para
cumprir Sua promessa de Salvação por meio de Cristo (a essência da Reforma),
Ele também é fiel para nos sustentar na vida diária (a necessidade do
pós-Reforma).
· O Chamado à Estabilidade: Em um mundo de incertezas (políticas, econômicas, sociais), a fidelidade de DEUS é nossa única rocha. Isso nos chama a uma vida de estabilidade e de firmeza, sabendo que nosso trabalho no SENHOR não é vão (1 Coríntios 15:58).
Aplicação
Meus amados, a nossa era é um novo pós-Reforma.
Vivemos em um tempo de grande conhecimento bíblico (graças à herança
reformada), mas também de grande instabilidade e pressão cultural.
Como aplicar o princípio de Fidelidade
Perseverante hoje, à luz de Hebreus 10:23?
1.
Reavive a Ortodoxia com Paixão (Guardar a Confissão): Não permita que a sua
fé seja apenas uma lista de doutrinas frias. Busque a Palavra (a Bíblia) não
apenas para saber, mas para se transformar. Que o seu credo leve à sua conduta.
2.
Persevere nos Tempos Difíceis (Manter a Esperança): O mundo está cheio de
falsas esperanças e de desânimo. Lembre-se: o DEUS que nos resgatou do Egito do
pecado é o mesmo que nos guiará à Terra Prometida da Glória. Não vacile diante
das perseguições, dos ataques à verdade, ou das frustrações da vida. O retorno
de Cristo é certo!
3.
Descanse e Responda (Confiar na Fidelidade de DEUS): Se Ele é fiel, podemos
descansar em Sua soberania e, então, responder com nossa própria fidelidade.
Isso significa:
o Fidelidade no Serviço: Servindo com amor e
perseverança, mesmo que não haja reconhecimento.
o Fidelidade no
Testemunho: Vivendo uma vida que honre a graça que nos salvou.
o Fidelidade na Comunhão: Amando e encorajando a
comunidade de fé, conforme o versículo seguinte nos exorta:
"Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às
boas obras" (Hb 10:24).
Que o SENHOR nos ajude, como ajudou a geração pós-Reforma, a "Guardar firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem prometeu é fiel." Amém.
Referências:
MULLER, Richard A. Post-Reformation Reformed
Dogmatics. Grand Rapids: Baker Academic.
COSTA, Hermisten Maia Pereira da. Ortodoxia
Protestante: Um Desafio à Teologia e à Piedade.
WESTMINSTER, Assembleia de. Confissão de Fé
de Westminster e Catecismos Maior e Breve
(1646-1647). São Paulo: Editora Cultura Cristã ou Monergismo.
HÄGGLUND, Bengt. História da Teologia. São
Paulo: Editora Concórdia.
BRUCE, F. F. Comentário do Novo Testamento: Hebreus. São
Paulo: Editora Vida Nova.

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